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R.I.P. jornalista (pseudo) imparcial

O furo do repórter Glenn Greenwald, que denunciou a espionagem feita pelo governo de Barack Obama sobre os cidadãos norte-americanos, me fez cair a ficha sobre qual é o futuro do jornalismo. Na verdade, a questão sobre se os veículos em papel sobreviverão ou não à imprensa online é uma questão menor. Se os jornais […]

Cynara Menezes
12 de junho de 2013, 13h51

O furo do repórter Glenn Greenwald, que denunciou a espionagem feita pelo governo de Barack Obama sobre os cidadãos norte-americanos, me fez cair a ficha sobre qual é o futuro do jornalismo. Na verdade, a questão sobre se os veículos em papel sobreviverão ou não à imprensa online é uma questão menor. Se os jornais vão falir, o problema é dos donos deles. Para nós, jornalistas, o que de fato importa é o tipo de jornalismo que se faz, que se fará. E Greeenwald é a prova: só irão permanecer os jornalistas engajados, politizados e que têm uma opinião própria a respeito dos fatos.

Aquele jornalista “imparcial”, anódino, obediente à postura ideológica disfarçada de seu veículo, perdeu o bonde da história. Na era das redes sociais, o leitor não se interessa por gente que não se posiciona. Greenwald sempre se posicionou. Foi um crítico feroz do Patriot Act, que praticamente eliminou as liberdades individuais nos EUA após os atentados de 11 de setembro de 2001. Apoia e denunciou as condições em que se encontra preso Bradley Manning, o soldado que facilitou segredos ao Wikileaks. É homossexual assumido e militante dos direitos LGBTs. O jornal para onde escreve agora, The Guardian, sempre teve uma visão liberal e anti-establishment. Não há nada de “imparcial” nisso.

Isso é importante: ser contra o establishment –não basta ser um “fiscal” do governo. É pouco. Os novos tempos exigem de jornais e jornalistas que tenham um papel social, que atuem em favor dos cidadãos. Até porque nem sempre produzir notícias contra o governo é produzir notícias em favor da população. Vejam o exemplo do Brasil, onde a imprensa optou, nos últimos anos, por fazer oposição em vez de jornalismo. Até que ponto os jornais defendem os direitos dos brasileiros e não os seus próprios ou da pequena parcela da população que representam? Ser contra as cotas, por exemplo, é ser a favor do brasileiro?

Os jornalistas que abriram perfis nas redes sociais apenas por vaidade e que os usam para se omitir ou para compartilhar amenidades já eram. Isso não vale apenas para os progressistas ou de esquerda. Também o jornalista conservador, mais identificado com a direita, terá garantido seu lugar ao sol quando se assumir assim. É mais claro, mais honesto e mais de acordo com os tempos em que vivemos. O leitor espera daqueles que lê diariamente uma postura diante do mundo. Ele já sabe que a imparcialidade não existe, que é um conto da carochinha. Jornalistas também votam.

O próprio modelo de financiamento da atividade jornalística proposto por Greenwald, pelo Guardian e por meios alternativos, onde o leitor paga diretamente àquele que lhe fornece notícias, sem “atravessadores”, exige engajamento. Quem vai aceitar pagar por um conteúdo que não lhe diz respeito, que não lhe interessa, que não realiza seus anseios enquanto cidadão?

O jornalista do futuro, livre da camisa-de-força da pseudoimparcialidade imposta pelos patrões, poderá mostrar a que veio. Com as redes sociais, os jornalistas já não estão mais encastelados nas redações, são cidadãos acessíveis a críticas (e elogios). Isso aumenta sua influência pessoal e sua responsabilidade social. É bom. Quem não souber se adaptar a este jornalismo atuante, opinativo, engajado, mais cedo ou mais tarde terá que passar no Departamento Pessoal.


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(18) comentários Escrever comentário

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Vinícius em 12/06/2013 - 14h03 comentou:

Boa Cynara. É isso aí.

Responder

Bruno Ribeiro em 12/06/2013 - 15h08 comentou:

Espero ao menos que nós, os jornalistas "parciais" que compreendemos a tempo o futuro da profissão, possamos nos organizar e tomar a dianteira neste processo.

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Vinícius em 12/06/2013 - 15h33 comentou:

Mt bom Cynara,

Basicamente está já é uma corrente no jornalismo americano e parece distante ainda no jornalismo brasileiro. Bem, os jornalecos estão falindo e acham que é só por causa da Internet.

Jay Rosen, crítico de imprensa americano, já levanta esta bola durante um tempo, já viu, Cynara?
http://gigaom.com/2012/05/22/why-newspapers-need-

"The View From Nowhere", todos jornalistas deviam fugir disso.

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Bacellar em 12/06/2013 - 16h54 comentou:

Discordo. Penso que não há motivos para os agentes do capital deixarem de financiar vozes favoráveis a suas posições. Somando esse fato ao nível educacional médio na maioria das nações existe uma grande demanda por notícias furadas, sensacionalistas e parciais. Infelizmente.
Os chamados "calunistas" do tipo Exú da Veja continuarão publicando absurdos em grandes portais de internet e seus links terão chamadas constantes nos Googleglasses e "Ivisions" da vida, quem sabe até terão crowdfunding de seus fanáticos reacionários. Claro filosoficamente podemos discutir se isso que fazem é jornalismo mas que terão espaço financiado eu tenho certeza.

Mas o artigo aponta para o futuro do jornalismo verdadeiro que se presta a cumprir suas obrigações funcionais, e nisso é perfeito. É possivel que o financiamento tambem passe por entidades de classe, movimentos sociais e patrocinio de empresas de mote socialmente responsável (pelo menos aquelas que possuem tal postura para alem do departamento de marketing).

Ando muito temeroso. A política (que tem em seu cerne o conflito de classes) geralmente segue a linha de extensão e contração. Vendo nossa História política e econômica fica bem nítido o tamanho da extensão (avanços nos direitos sociais) na última década no Brasil; a contração tende a ser violenta. Os agentes do capital já tiveram bastante tempo para se articular desde de a eleição de Dilma, certamente após 3 derrotas consecutivas na esfera federal os radicais que transitam entre eles ganham cada vez mais voz. Pensando no cenário internacional que parece forçar um realinhamento entre as potenciais e no nosso papel secundário (ok avançamos, mas ainda somos secundários) somados a aceleração do processo de fusão e internacionalização de grandes corporações nos últimos decênios…Como naquela música do Creedence "i see a bad moon rising". Espero estar redondamente enganado!

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Kawhi em 12/06/2013 - 17h09 comentou:

O problema da verdade é que ela não tem dono. Mas as pessoas teimam em se sentir prescientes o suficiente para prever o futuro: assim será, esses não terão vez, aqueles terão etc. Torcer em jornalismo é mau negócio.

Me parece – só me parece – que a internet democratiza a informação e permite a ampliação de oferta. Teremos campo para opinião? Sim. Mas se tudo for opinião – o que será informação? Há quem queira consumir notícia apenas – sem análise ou opinião.

Imparcialidade e isenção são mitos? São. Mas buscá-los deveria ser a missão de todo jornalista.

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Felipe Martins em 12/06/2013 - 17h51 comentou:

"Na era das redes sociais, o leitor não se interessa por gente que não se posiciona". Nunca podemos nos esquecer que quem se posiciona, certamente o faz por um dos dois (três, quatro?) lados da história. Contudo, da mesma forma que tem gente de boa como você Cynara, tem muito canalha nos dois lados da trincheira ideológica em que se transformou a mídia brasileira. Claro que cabe ao leitor identificar tal atitude de manipulação a favor de um ou de outro. O problema não é o jornalista emitir opinião, isso até tem bastante. O problema é o cidadão usar de má fé e manipular tudo para beneficiar ou o patrão ou o posicionamento ideológico dele.

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Rubens Amador Filho em 13/06/2013 - 18h10 comentou:

Cynara. Gostei do artigo, mas permanece um problema essencial: a capacidade de financiamento dos veículos. Um site independente não é sopa, ainda mais numa cidade do interior, como o nosso em Pelotas.

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Caio em 13/06/2013 - 18h14 comentou:

Boa tarde.
Meu comentário, na verdade, é uma pergunta: Ser contra cotas raciais é, necessariamente, ser contra o brasileiro? Não acho que o debate deva ser nesse tom. Pode-se concordar com os problemas indicados por quem acredita que as cotas são uma solução boa e constitucional (muito embora eu pense que não são), todavia, é equivocado o raciocínio de que, ou se faz assim, ou se está contra o "povo brasileiro".

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Gabriel em 14/06/2013 - 04h00 comentou:

Eu gostava mais da Cynara Menezes que passou no Departamento Pessoal da Editora Abril.

Responder

L A em 14/06/2013 - 10h32 comentou:

Não esqueçamos: Não tomar uma posição também é uma posição.

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    morenasol em 14/06/2013 - 17h04 comentou:

    tucanaram a omissão

Décio em 14/06/2013 - 10h45 comentou:

E você passou cinco anos achando o Obama um FOFO até que o cara viesse e mostrasse quem ele realmente é.

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malvina cruela em 14/06/2013 - 11h18 comentou:

nunca me acostumo com intimidade que os comentaristas parecem ter com o autores dos blogs..é fulano pra cá, beltrano pra lá sempre pelo prenome como se fossem amiguchos e infância…esquisito…muito esquisito

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Pedro Lima em 14/06/2013 - 19h30 comentou:

"Toda menina baiana tem um santo que Deus dá". Você é muito boa de caneta, Cynara. Parabéns!

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Fábio Rui em 15/06/2013 - 01h46 comentou:

Texto feito sob medida para o blogueiro presunçoso Abriliano Reynaldo Azedo!!!

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Aprilo em 16/06/2013 - 02h00 comentou:

jornalista tem que estar engajado sim, somente em esclarecer o que está acontecendo realmente no país e no mundo, em todas as esferas.
não há mais esquerda e nem direita. tá tudo muito confuso. então só resta ao jornalista o esclarecimento dos fatos.
por ex., no site do globalresearch conta porque a líbia, o iraque, foram invadidos, a síria passando por momentos ruins, etc. e se a gente procura na mídia brasileira informações do por que, encontra tudo diferente, e me pergunto, em quem acreditar?
bom, minha preferência vai pro globalresearch, porque considero tipo uma denúncia, enquanto que mídia brasileira escolhe ficar escondida, dando respostas enviesadas.
de novo obrigada pelo texto mui cerebral, é isso.

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Sueli M. Branco em 21/06/2013 - 07h03 comentou:

Novamente, peço para vc tentar se lembrar : quando o malfadado Feliciano foi eleito, pelos petistas e aliados, presidente da Comissão dos Direitos Humanos, numa afronta aos brasileiros, foram muitas as manifestações populares na Câmara, todas as vezes que essa rídícula Comissão se reunia. a revolta era tão gde que essa Comissão ficava impedida de concretizar a reunião, a qual era cancelada, até que o Feliciano, resolveu o problema, impedindo a entrada do povo na Câmara ! Muito democrático ! Lembre-se também que muitos deputados da oposição também tentaram retirá-lo do cargo, mas todos os esforços foram em vão ! O PT no poder, foi lentamente, e às vezes, veladamente, ou em outras vezes, assintosamente, estendendo sobre o país, as malhas da Ditatura Marxista ! Repleta, como todos os governos totalitários, de corrupção, conchavos, incompetência, alienação, distanciamento dos anseios populares, etc, etc, etc, Aí deu no que deu ! O aumento das tarifas foi apenas o estopim para acender a chama da revolta gigantesca e até então silenciosa, da revolta de um povo espoliado e esmagado em todos os seus direitos constitucionais ! Nenhum politico desonesto, acreditava que essa povo manso, esbofeteado, diariamente, na sua dignidade e no seu valor, iria, um dia se debelar e reagir a tantos desatinos e a tantos descaminhos ! Agora o Gigante, finalmente, acordou e para os que estão no Poder, não adianta chorar ! A luta apenas começou. E pelo número de reivindicações exigidas, será longa, difícil e, esperamos que seja VITORIOSA em todas as suas aspirações ! Se for difícil, temos a Revolução Francesa para nos inspirar e nos animar !!!

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Jéssica em 26/10/2013 - 12h32 comentou:

Falou tudo o que sempre pensei!! Mandou bem Cynara Menezes. Adoro seus textos.

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