Socialista Morena
Cultura

Os muquiranas do conhecimento

Ser contra as cotas raciais ou para estudantes das escolas públicas é ser um pão-duro do saber, um mão-de-vaca da cultura

Tio Patinhas e Mac Mônei no traço de Don Rosa
Cynara Menezes
28 de setembro de 2012, 23h08

A primeira vez que eu, menina do interior baiano, ouvi falar de Machu Picchu e da civilização inca foi num gibi de Tio Patinhas. O velho sovina de Walt Disney era incapaz de presentear Huguinho, Zezinho e Luizinho com um tablete de chocolate, mas não era avarento na hora de compartilhar informações ou de convidar os sobrinhos para suas viagens ao redor do mundo em busca de aventuras –e também de tesouros, claro.

Sempre que vejo a reação de alguns no Brasil à política de cotas lembro do Tio Patinhas. Para mim, ser contra as cotas raciais ou para estudantes das escolas públicas é ser um muquirana do conhecimento, um pão-duro do saber, um mão-de-vaca da cultura. Ao longo da vida, conheci muitas pessoas que se gabavam de ter lido os clássicos, de conhecer várias línguas ou de possuir diversos diplomas com a boca cheia, como se tratasse de um privilégio a que só os bem-aventurados, ungidos por Deus, teriam direito. Pessoas incapazes de repartir sabedoria até mesmo emprestando um livro.

Os argumentos anti-cotas, além de evidenciarem um mal disfarçado preconceito de classe, não passam de desculpas de quem não quer admitir que não gostaria que o conhecimento fosse também democratizado, que fosse acessível a todos

Como se a cultura fosse um baú cheio de moedas de ouro ao qual os velhacos do conhecimento dormem abraçados para que não lhes escape pelos dedos um só níquel que seja, tal qual o Tio Patinhas com a sua “número um”. O muquirana da cultura também  costuma exibir sua moedinha: adora citar frases que pinçou das leituras que fez apenas para demonstrar a incrível erudição que “possui”. Morre de ciúmes de “seus” autores prediletos. Para que ter a generosidade de apresentá-los para que mais gente os conheça, se pode guardá-los inteirinhos para si?

Eu tive a sorte de conviver com mestres que fizeram questão de dividir comigo todo o (pouco) conhecimento que haviam acumulado em suas vidas de professores de província, primeiro, e depois grandes figuras que conheci como jornalista. “Leia isto” –é uma frase singela, mas de uma generosidade sem tamanho, sobretudo se vem acompanhada da própria obra, num país onde os livros custam caro. Nunca pudemos comprar muitos livros em casa, não cresci com uma vasta biblioteca ao redor. Fui correndo atrás de minha formação ao longo da vida e por isso os mestres foram tão importantes, indicando caminhos.

Como o Tio Patinhas, o muquirana da cultura costuma exibir sua moedinha: adora citar frases para demonstrar a incrível erudição que “possui”. Morre de ciúmes de “seus” autores prediletos. Para que ter a generosidade de apresentá-los para que mais gente os conheça, se pode guardá-los inteirinhos para si?

O discurso que os avarentos da cultura no Brasil utilizam contra as cotas é tortuoso. Defendem, principalmente, que o ingresso dos oriundos da escola pública e dos afro-descendentes irá reduzir a “excelência”, baixar o nível das universidades também públicas, que são as melhores –aquelas que eles próprios fazem questão de criticar, quando convém. Um argumento absolutamente falacioso, como se não fosse possível a qualquer estudante inteligente e aplicado, vindo de qualquer colégio, crescer junto com o ambiente em seu entorno. Ou “o homem é produto do meio” não serve para os mais carentes?

No fundo, os argumentos anti-cotas, além de evidenciarem um mal disfarçado preconceito de classe, não passam de desculpas de quem não quer admitir que não gostaria que o conhecimento fosse também democratizado, que fosse acessível a todos. A verdade é que os mesmos que torcem o nariz para a classe C que viaja de avião tampouco querem conviver com eles a seu lado na poltrona do teatro, do cinema –ou na universidade. Cultura é riqueza. Compartilhar cultura, saber, com os menos favorecidos é sinônimo de compartilhar o poder com eles. É contra isso que os muquiranas do conhecimento não param de resmungar.


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Lenir Vicente em 28/09/2012 - 23h24 comentou:

Excelente!Os muquiranas do conhecimento estão perdendo o poder no país do presidente metalúrgico e da presidenta guerrilheira.

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cleusa sampaio em 29/09/2012 - 00h13 comentou:

Muito bom e real! Deixar de fora, não dar acesso e amnter para si um espaço elitizado que diferencia!As pesquisas têm mostrado q alunos de cota tem notas boas, não faltam, nem atrasam disciplinas pois sabem valorizar o acesso!

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Douglas em 29/09/2012 - 15h35 comentou:

Ler esse texto até dar náuseas. Até porque a questão de cotas está totalmente deturpada. E aparece como um divisor de águas, aparentemente, para quem escreveu o texto. Infelizmente, a cultura das cotas é a cultura da esmola. Não se privilegia conhecimento simplesmente abrindo a mão de um laboratório para um leigo. E a escola (desde a básica) deve, essa sim, ser compartilhada com uma boa qualidade e estrutura mínima. Não é isso que acontece. Portanto, criar cotas é apenas jogar a sujeira para debaixo do tapete. Não resolve coisa alguma. A escritora não toca no ponto porque está tão cega quantos os que ela chama de muquiranas. Esses são os políticos que criaram essa aberração. No caso, o governo dos PTtralhas.

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    morenasol em 29/09/2012 - 17h08 comentou:

    talvez os "PTralhas" sejam as pessoas ideais para combater os tio patinhas do conhecimento, né, douglas? bem lembrado!

    Douglas em 29/09/2012 - 17h20 comentou:

    Como disse, essa política do lixo debaixo do tapete é coisa que está em voga. E não funciona. Ponham a qualidade, eficiência e estrutura condizente nas escolas públicas. Cobrem de alunos, professores, diretores. Mas principalmente e, primeiramente, dos dirigentes. Não basta querer, apenas, dar direitos. Tem de cobrar obrigações. O restante é resultado. Se não faz isso se faz a política do tapete sujo. Empurre o problema para lá e deixe essa bomba apodrecer. Tá bom assim? Se a sociedade se contenta com essa orgia, ótimo. Do contrário, cobrem as condições mínimas e justas. Não essa falácia de cotas. Isso é coisa de "socialismo" malfadado.

    Zé Raineri em 30/09/2012 - 17h21 comentou:

    "Antes de distribuir riquezas, temos que fazer o bolo crescer". Esse mantra, entoado desde os economistas da ditadura até o príncipe dos sociólogos, cabe como uma luva no seu comentário. Ambos não passam de desculpas dos que querem manter seus privilégios, daqueles que colocam todas suas forças para que o país continue sendo conhecido como uma "Belíndia". Desde que, claro, continuem em seu lado Bélgica e o populacho bem apartados em sua Índia.

    "Antes de distruibuir renda, temos que fazer o bolo crescer", "antes de abrir vagas na universidade temos que melhorar a escola pública", "antes de receber a massa em nossos teatros e aviões, ela precisa comprar bons perfumes".

    O governo do torneiro mecânico e dos PTralhas (apesar de todos os seus defeitos, que existem, claro) mostrou que é possível distribuir e fazer o bolo crescer ao mesmo tempo. Demonstrou que, ao contrário do que pontificavam os "analistas econômicos", a distribuição cria um ciclo virtuoso. Assim me parece que acontecerá também na educação: a formação os egressos das cotas raciais/sociais terá impacto positivo na escola pública no futuro. Afinal, sabemos muito bem que os filhos da classe média tem "nojinho" de ir ensinar nas escolas da periferia, junto daquela "gente diferenciada".

    eugenio em 29/09/2012 - 18h12 comentou:

    Faustões e Caetanos e FHCs e Pedros Biais (Cruzes!)…
    São esse tipo de gente que se julga inteligente que despejam merda diariamente na cultura do país.
    Haja PTralha para acabar com isso!

    Vi Siqueira em 14/10/2012 - 15h49 comentou:

    Viva o metalúrgico e a guerrilheira!!! A cada dia que passa me deixam mais orgulhosa!!! Avante "PTralhas"!!!

Marco Mala em 29/09/2012 - 15h45 comentou:

Ai, ai, ai… ter que aturar esses socialistas de iPhone é dose….
Cotas para negros é sim uma aberração!
Cotas para estudantes de escolas públicas e de baixa renda é um "mal necessário"…
Se o sapo barbudo tivesse investido maciçamente em escolas do ensino fundamental e médio, ao invés de sapecar os país de universidades sem a menor condição de funcionar, só para dizer que "nunca antes na história" desse país alguém fez tantas faculdades públicas….
Também nunca se roubou tanto.
Lula, o PT (e o socialismo, por tabela) são os cânceres desse país…..

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    Vicente em 30/09/2012 - 22h49 comentou:

    O câncer desse país, meu caro amigo, são ignorantes como você, que opinam com ar de moralidade embasados em argumentos tão falaciosos quanto as suas ideologias de culto ao capitalismo e todas as suas distorções. Antes de manifestar essa opinião estúpida, poderia estudar um pouco da maldita história desse país pra se dar conta de que essa "esmola" – segundo a tua própria definição das cotas para negros nas universidades públicas – nada mais é do que o pagamento de parte da dívida que o Brasil tem com os negros. É nesse país que um verdadeiro genocídio de jovens negros é operado pelas polícias militares com a aprovação da classe média, da mídia capitalista e dos próprios governos. Quer maior exemplo que o de São Paulo? É nesse país que a porção majoritária da população em situação de miséria, desemprego e outras mazelas é negra – olha só que coincidência, não? E é nesse país de merda que os negros receberam sua abolição de maneira tardia, sendo recompensados com toda a carga de desprezo e descaso possível por aqueles que muito se beneficiaram dos seus serviços durante o regime de escravidão. E olha só, seu estúpido, eu nem falei dos índios ainda, dizimados e oprimidos até hoje pelos brancos ditos "civilizados". Aberrações são pessoas como você, que enxergam políticas como a de ações afirmativas como um mal quando na verdade são apenas uma maneira de garantir direitos à parcela da população que não tinha acesso a eles. Ou tu vai me dizer que os negros tem a mesma condição de entrar em uma universidade pública que um branco? Então me diz, quantos médicos negros tu conhece? Eu particularmente não conheço nenhum. Então não seja hipócrita. Se quiser, continue idolatrando as políticas dos governos do PSDB, que a exemplo de outros países como os que estão no furacão da atual crise internacional – vide os exemplos de Portugal, Espanha e Grécia – que solaparam direitos da população transformando-os em serviço com as privatizações, que no Brasil significaram um desvio de dinheiro tão volumoso que faz o mensalão parecer roubo de pirulitos em um supermercado. Viva o país da hipocrisia.

    justdu em 25/10/2012 - 17h28 comentou:

    Vicente, os muquiranas são sempre ignorantes porque ao invés de ver a vida através dos olhos de quem quer ver vêem a vida através do seu umbigo. Eles acreditam piamente que ainda existe o anacrônico sistema de Casa Grande e Senzala fingem desconhecer que o País mudou. Hoje há oportunidades para todos e estas políticas compensatórias como as cotas universitárias são necessárias para restabelecer aquilo que lhes tirado ao longo destes séculos de opressão. E Marco, o câncer que tem extirpado é o neoliberalismo que expolia países em favor do Deus Mercado. Não queremos mais vocês e os abutres por aqui,

    Lorena Maria em 23/11/2012 - 20h35 comentou:

    Meu caro Marco Maia. Por favor, no mês de dezembro vá até esse link e leia a matéria Um liberal contra miséria: http://revistapiaui.estadao.com.br/outras-edicoes
    Agora estará bloqueado para não assinantes, mas em dezembro fica disponível. Não vejo nada de errado em ser capitalista. E essa matéria vai falar sobre isso. Mas percebo que falta (visivelmente) em suas palavras um pouco mais de conhecimento. Talvez esse mesmo sistema tenha privado você dele também. O importante, até para criticarmos, é melhorar a qualidade dos nossos argumentos. Acho que essa matéria vai te ajudar.

Cristian em 29/09/2012 - 17h22 comentou:

Existem vários "muquiranas do conhecimento". Tanto os contra cotas, como aqueles que cobram preços absurdos por um livro, CD, show, filme, game, ingresso de estádio e etc. Aí quando as pessoas que não tem condições de consumir, começam a ter acesso a tudo isso, se faz de tudo para impedi-las, criminalizando a cópia e a distribuição sem intenção comercial em meio virtual, aumentando o preço do ingresso no futebol para elitizar o público, etc

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RenatoP em 29/09/2012 - 17h42 comentou:

"No fundo, os argumentos anti-cotas, além de evidenciarem um mal disfarçado preconceito de classe, não passam de desculpas de quem não quer admitir que não gostaria que o conhecimento fosse também democratizado, que fosse acessível a todos. A verdade é que os mesmos que torcem o nariz para a classe C que viaja de avião tampouco quer conviver com eles a seu lado na poltrona do teatro, do cinema –ou na universidade. "

Ah, tenha dó. Quem dera o mundo fosse dividido entre os bem intencionados com a chave para o futuro e os mal intencionados obscurantistas, desesperados para oprimir. Isso tornaria as coisas bem mais fáceis. Mas não é assim. Estamos no século XXI e é trágico que o maniqueísmo ainda seja tão forte. Faça um favor a todos nós: pare de propagar que quem é contra cotas o faz por questões racistas. Embora isso exista, de longe o argumento racista não faz parte do discurso anti-cotas. Esse tipo de monopólio das boas intenções é uma das coisas que mais me dá asco da esquerda política, como podem ser tão arrogantes a ponto de pensar que somente vocês desejam o melhor pro próximo?

Faça um favor para todos nós e pare de cuspir em gente como Thomas Sowell, Martin Luther King e Nelson Mandela, todos proeminentes, todos anti-cotas… todos negros. Sim, eu disse cuspir. É isso o que você faz ao resumir o discurso anti-cotas em bobagem racial.

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    Arthur em 30/09/2012 - 14h34 comentou:

    Caso clássico de ampliação indevida em argumentação. Esse leu Não somos racistas.
    Ah, tenha dó de usar esse tipo de coisa por aqui.

    Roberto em 06/10/2012 - 22h20 comentou:

    Todo muquirana do conhecimento parece que, além da sua moedinha querida, tem um prisma que lhe filtra qualquer visão do mundo. Só vê as coisas pelo lado que lhe interessa ou com interpretações cortadas de um constexto e as generaliza obtendo uma outra verdade que lhe convenha. O RenatoP, Thomas Sowel, Martin Luther King e Nelson Mandela não lutaram para ter cotas de sua raça, eles lutaram para serem reconhecidos como gente, algo muito diferente do nosso racismo velado e estratificado no tempo em classes sociais.

Eugênio Drumond em 29/09/2012 - 17h58 comentou:

Olá, Socialista Morena,
pena que só agora descobri este seu blog, que acompanharei de perto e para sempre…
Não perco um texto seu na Carta, todos sempre encantadores como este.
Tolerar os imbecis é muito difícil, a cada ano me tranco mais e mais em casa entre salvadores livros e DVDs, dada a proibição, nesta minha toca, de ligar qualquer canal de TV.
Inteligências como você me deixam menos desesperançoso com esta vida besta.
Virtual e grande abraço
Eugênio Drumond, de BH

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Nei Ferrari em 29/09/2012 - 19h21 comentou:

Sou totalmente contra as cotas. Por ser segregação racial. Somos iguais perante a lei. Com direitos e deveres. Luto por educação de qualidade, para todos, desde o ensino fundamental. O presente nos fará no futuro um país racista. Pois os negros, índios e pobres de estudam em escola publica serão discriminados pela falta de formação. Pensem por este lado. Não se deixem enganar não é diploma universitário que nos dá conhecimento ou cultura. É sim leitura acesso a cultura.

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    Lorena Maria em 23/11/2012 - 20h48 comentou:

    Nei, quando entrei na faculdade acho que pensava assim também. Mas consegui entender melhor o que as cotas raciais significam. Tenho más notícias. O futuro já chegou! Nosso país é racista! E a segregação racial existe há séculos. E é por isso que negros na mesma condição social, numa mesma classe de uma escola não tem as mesmas oportunidades e perspectivas de um garoto branco. Ele é desestimulado em sua turma, em seu bairro, no seu primeiro emprego. Pegue qualquer estudo sobre isso e veja os dados. É bem concreto. As cotas não estão na contramão de um ensino de qualidade pra todos. É preciso distinguir bem as coisas. E por favor não me fale, num país como nosso, que somos todos iguais perante a lei. Sei o que você quer dizer, mas nós dois sabemos que na prática tudo é bem diferente.

João Luiz L. em 29/09/2012 - 19h40 comentou:

Cotas pra afro-descendentes, indígenas… Será que um dia vai começar a ter cotas pra gays e lésbicas? O conhecimento ainda vai se tornar uma coisa cara no país. Cara, não de dinheiro. E sim de importância.

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Fabio em 29/09/2012 - 19h48 comentou:

Péssima abordagem sobre tema. Não ser a favor das cotas é não querer compartilhar cultura? Errado, ser contra as cotas é querer que todos tenham cultura antes mesmo de ingressarem na universidade.

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Lelton Melo em 30/09/2012 - 00h01 comentou:

Parabéns. Belo texto! Tem muita alma boa, pequena-burguesa é claro, com medo de disputar cultura tête-à-tête com gente negra e oriunda da classe C! É medo. E viemos pra ficar. É bom acostumar.

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Alexandre em 01/10/2012 - 00h18 comentou:

O verdadeiro Muquirana é o governante que paga 800 pratas para um Professor formar a nova geração deste país!

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Na Santos em 02/10/2012 - 23h49 comentou:

Já critiquei o sistema de cotas, justamente porque defendia que o ensino de base fosse reformado e ganhasse qualidade… É triste pensar que, por todos os anos em que o Projeto que culminou na Lei nº 12.711/2012 esteve em discussão, o ensino público de base somente piorou. Mas temos de trabalhar com fatos e não com um mundo platônico. Fato é que hoje, sem o sistema de cotas, uma parcela gigantesca da população não tem acesso às universidades públicas. Também há pesquisas comprovando que os alunos oriundos das cotas nas universidades que já as haviam implementado têm um ótimo rendimento. Nessas condições, negar acesso à população, seja a de baixa renda, seja a negra, seja a indígena, é uma atitude mesquinha, sim. Espero que todos que tenham levantado a voz para criticar este texto excelente da Cynara realmente façam algo pelo ensino de base em nosso país… Espero que atuem, por exemplo, em cursinhos comunitários… Criadas as cotas, resta, sim, ao Poder Público trabalhar para que elas não sejam necessárias no futuro. Mas a sociedade civil precisa exigir isto. Esperar sentado e simplesmente reclamar não leva a nada. Faça sua parte! Ainda que seja começando pelo singelo mas imenso gesto de presentear uma criança carente com um bom livro.

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Erick Figueiredo em 14/10/2012 - 15h55 comentou:

Acho muito interessante a crítica à política de cotas. Os críticos nunca são racistas. Pelo contrário… Racistas são os "outros".
Uma característica do racismo no Brasil é o fato de que sempre nos lembramos de nossos ascendentes europeus mas nunca da outra metade, oriunda dos africanos, sendo que somos todos mestiços, independente da cor da pele.
E o mais triste é a comparação entre os escravos e os imigrantes europeus, sendo que estes últimos, quando imigraram, tinham garantia de terras, de parcerias agrícolas ou de empregos bem remunerados ao contrário dos escravos libertos que só tiveram a humilhação da discriminação e da segregação.
Excelente artigo.

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RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h09 comentou:

É interessante a questão de cotas porque não nos deixa duvidas de que ela é um divisor de águas que vai muito além das belas palavras e discursos onde todos tentam mostrar que tem conhecimento e que procuram falar bonito e isso por todos aqui citados porque muitos não devem saber ou conhecer de perto o que pensa um jovem da periferia de São Paulo que além de sofrermos com a repressão da policia tem mais esse pulo do gato que nos gera mais uma “pressão psicológica”.

Responder

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h11 comentou:

    CONTINUA AQUI!
    Pior do que isso nos gera uma insegurança muito grande porque mesmo quem não é afrodescendente ou raças afins, pode se autodeclarar e essa são uma das questões problemas que eu e meus amigos negros chegamos a comentar, além de que também acaba levantando e ressaltando ainda mais a questão do pré-conceito/racismo/ das pessoas para conosco, pobres e negros. Alguns preferem não serem cotistas para não serem vistos nas universidades como "coitadinhos" e tão pouco serem exclusos, ainda mais do meio social!_
    De fato, sem ter que estar levantando a bandeira de algum partido politico e também entrando aqui nos por menores históricos partidários que todos levantaram, do que foi ou do que é, isso gera muita insegurança e muito zumzum e nós que estudamos em escola publica na periferia, eu e meu amigos negros ficamos inseguros quanto a isso e também viramos motivos de inúmeras piadas.

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h13 comentou:

    É certo que acabamos tirando um sarro um da cara do outro, mas, na real a situação é bem seria por conta deste quesito da autodeclararão. Sem falar que quando se vai pra uma sala de aula numa Federal percebemos a diferença de um aluno que estudou numa publica pra um que estudou num Colégio Bandeirantes, num Pio XII ou num Porto Seguro da vida.Fato!Né?

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h13 comentou:

    CONTINUA AQUI!
    Acho mesmo que deve-se acabar com a tal lei da aprovação automática porque estamos de certa forma ficando uns analfabetos letrados e que por favor ninguém venha nada me criticar porque esta é a real situação do pais .Percebe-se que os jovens de hoje não sabem escrever direito, é só olhar a pagina do facebook as postagens de um jovem ai da vida que escreve tudo errado mesmo e também esta pouco se lixando pra ir a escola ler e estudar. Muitos vão lá pra contatos sociais e esta é a realidade das salas de aulas, muito não respeitam nem o professor e vão lá pra bagunçar e apontar o dedo na cara deles e de quem mais estiver folgando!

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h15 comentou:

    CONTINUA AQUI!
    Do contrario a treta come solta no lado de fora num claro tom audível: Ei te cato na saída!_
    F _ _ _ U!!

    Essa é a realidade das salas de aulas nas periferias.
    Confesso que tem muito aluno bom e dedicado, mas por causa desses maus ai e que vão lá se autodeclarar como negros, pardos ou carentes que vieram da escola publica é que de fato nos ferram a vida! Porque não estudaram P _ _ _ A nenhuma !

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h15 comentou:

    CONTINUA AQUI!
    só foram lá na aula encher o saco da gente que queria estudar e ai se socorrem na carta do curinga que tem na manga:COTAS!
    E ai? Como resolver esta questão?
    E ai? Acabamos virando refém dum fanfão! E ai? Como dar cotas pra um mau aluno? Que só vai pra escola pra tirar a atenção da turma e o juízo dum professor. Esta cheio de aluno forgado que mata os professores, põe bomba em baixo dos carros dos professores, aqui na periferia convivi com muitos deles !

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h16 comentou:

    CONTINUA AQUI!
    Que não se dedicou um fim de semana e que só sabe ir pro samba, NÃO FEZ UM TRABALHO E FICA NESSA DE PEDIR PROS OUTROS: Mano põe meu nome ae!

    Mas Pô mew!Só pode falar alguma coisa aqui quem de fato é ou veio da periferia ou que o mínimo convive de perto com essa realidade.

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h17 comentou:

    CONTINUA AQUI!MEU TEXTO É GRANDE!!
    Este ano estou pra fazer FUVEST, (MAIS UMA VEZ) sempre estudei em escola publica, HÁ DOZE ANOS NA ESCOLA PUBLICA ESTADUAL GANHEI UMA INSCRIÇÃO PAGA PELOS PROFESSORES PRA PRESTAR UNESP, PASSEI SEM ENEM E SEM CURSINHO, NÃO ESTUDEI O CURSO PORQUE ERA LONGE DE CASA E MINHA MAE NÃO ME DEIXOU IR ,não vim de berço esplendido e sou da periferia, já peguei varais enchentes na beira do rio e ainda na minha vida anda mudou, apenas mudei de uma periferia pra outra, já estudei em escola de lata na CIDADE TIRANDENTES, BEM NO FIM DO MUNDO DA ZL, sou descendente de índio e não me declarei coisa alguma e nem pedi cotas por vir de escola publica por total consciência de que quem quer corre atrás. Tem muita biblioteca publica e boa e é só o cara ir lá fazer seu cadastro e pegar o livro emprestado!

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 15h19 comentou:

    CONTINUA AQUI!!
    Pois um dos integrantes poetas do Movimento: As Mãe de Maio frequenta a mesma biblioteca que eu e é pobre de marre- desci! Pesquisa e estuda tudo para seus saraus em biblioteca publica, não compra um livro! Pega tudo emprestado como eu! É NEGRO e inteligentíssimo. E nada o impede de ter o contato com a história, a cultura, o cara é da periferia mesmo e se orgulha disto! É INTELIGENTISSIMO!!
    Mas, enfim em minha opinião, quem quer corre atrás não fica se vangloriando de que tem uma carta do curinga que na manga. Porque vamos combinar, as cotas além de ser um divisor de águas é uma carta do curinga pra aquele que foi pro samba e só zuou a aula toda, tem na manga pra passar na universidade.
    E NA BOA: SOU DA PERIFERIA E ME ORGULHO MUITO DISSO!
    ENTENDEU?
    DESCULPE-ME! MAS MEU TEXTO É GRANDE!
    ABRAÇOS, ATÉ!

morenasol em 25/10/2012 - 17h02 comentou:

Rosa, vou responder aqui para que valha para todos: é um absurdo não ser divulgado que as cotas não são apenas por raça, elas também são por renda. sem contar com o ProUni. Ninguém vai ficar de fora, basta se informar. vou procurar um link pra tirar dúvidas e volto a postar aqui

Responder

morenasol em 25/10/2012 - 17h05 comentou:

aqui o link para entender sobre como funcionam as cotas http://www.ebc.com.br/educacao/2012/10/entenda-a-

Responder

    RosaRubra1978 em 25/10/2012 - 17h24 comentou:

    VALEU!OBRIGADO PELA ATENÇÃO!BEIJOS.

Gladisson em 25/10/2012 - 17h19 comentou:

Excelente texto. Sou professor da rede pública de ensino, professor em cursinho voluntário que prepara alunos de baixa renda a passarem no vestibular e, portanto, sei bem o quanto as cotas são importantes para estes alunos. Fui cotista também (cotas raciais) e me formei no período correto, com notas muito superiores a alunos não cotistas. As cotas me ajudaram é certo, mas sei que meu retorno á sociedade se equipara e, mesmo, ultrapassa essa tal ajuda. Sou um cidadão muto mais útil que muito muquirana por aí!

Responder

    morenasol em 25/10/2012 - 19h24 comentou:

    parabéns, gladisson : )

Renata em 25/10/2012 - 18h08 comentou:

Parabéns pelo texto! O que me deixa besta são os comentários…Fico me perguntando porque existem pessoas tão mesquinhas no MUNDO? Um exemplo aconteceu HOJE no meu serviço: estávamos falando sobre o novo FIES, como facilitou o financiamento estudantil. E um dos meus amigos lembrou que quando se formou nos anos 90, foi uma imensa dificuldade para pagar o curso, sempre tendo de fazer acordos com a instituição para enfim ter um diploma.
Esse pessoal que critica o sistema de cotas, não conhece a realidade do nosso país! É por isso que serão banido da nossa política!
Parabéns novamente!!!

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Vanessa em 02/11/2012 - 18h24 comentou:

Parabéns pelo texto Cynara, é muito coerente. De fato existe mesmo essa “muquiranice” de conhecimento. É curioso o tanto quanto algumas pessoas ficam incomodadas com a ideia de cotas raciais. Enquanto o acesso às universidades não for igual para todos, tem que ter cota sim. É claro que, junto a isso, deve ocorrer, gradativamente, um aperfeiçoamento do sistema público de educação. Dessa maneira, no futuro, medidas para equalizar o acesso ao ensino superior não serão mais necessárias. Geralmente esses comentários anti-cotas partem de pessoas que não têm acompanhado os alunos beneficiados com esse sistema e o desempenho dos mesmos após ingresso. Tais comentários fazem parecer que a diferença de nota de um aluno que passou com cotas e outro que passou sem cotas é imensa (e não é!). Sejamos realistas: Se um vestibulando pobre, oriundo de escola pública (e quase sempre afrodescendente) tem quase a mesma nota num vestibular de um aluno que estudou num colégio como o Arquidiocesano (a exemplo, pois geralmente a diferença de pontuação é pequena, mas crucial), é evidente que ele (o negro) tem mais capacidade. O sistema de cotas, na prática, funciona para corrigir essas desigualdades. As pessoas acham que um candidato afrodescendente pode "tirar zero" e assim "tirar" a vaga de alguém que "estudou". Outro absurdo. Falta informação. O discurso anti-cotas é um discurso da classe média (pois a ausência de cotas gerou, até hoje, uma desigualdade que as beneficia), entretanto muitas vezes esta mesma classe média consegue estudar e fazer intercâmbios fora do Brasil por meio de sistemas de cotas para estudantes estrangeiros… Dessas cotas ninguém fala…tais cotas são, em sua maioria, preenchidas por pessoas de classe média oriundas de países em desenvolvimento. Ou alguém acha que um brasileiro que vai fazer especialização em Harvard (a exemplo) concorre com estudantes americanos? Para finalizar, deixo aqui um link com comentários da defesa em audiência referente ao sistema de cotas. http://www.direitodoestado.com.br/noticias_detail

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EDUARDO CATALOGNA em 22/02/2013 - 12h22 comentou:

Desde Argentina desculpa meu português. 1º o pato Donald e família não é outra coisa que uma parodia da sociedade americana criada por os capitalistas "salvagem" em esse sistema quem más sofre é o povo , o povo sim, o trabalhador. Capitalismo , é do homem dos homens das cavernas eram capitalistas , quem tinha a arma más forte recebia tributos, os maias, bom… os incas… Hoje si o latifúndio foi adquirido por o trabalho, tem direito de ter essas terras( certo, quase sempre foram roubadas) castiguemos o robo , não o latfundio. E si um senhor compra uma Ferrari, da trabalho, muito bom pago a muitos empregados.
2º SOU A FAVOR DAS COTAS de negros judeus polacos argentinos bolivianos não importa si estam preparados para estudar O SÃO BURROS tem que estar na universidade
3º igualdade é resultado de evolução não de imposição
4º O ÚNICO SOCIALISTA COERENTE QUE SEI ES O PRESIDENTE DO URUGUAY. DUVIDAS ? OLHA LOS PC DO MUNDO
5 º lutemos por um mundo, uma sociedade más justa

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Suburbana Carioca em 29/01/2014 - 16h15 comentou:

A gente sabe que os negros, ao longo dos séculos, sempre viveram em desigualdade com os indivíduos brancos, e que uma política deste tipo poderia reparar todo esse histórico de opressão… Ainda sim, você não acha que não seria uma forma de desigualdade um indivíduo branco que estuda no São Bento, e um indivíduo negro de uma escola municipal/estadual terem uma educação básica tão diferentes?

Como disse uma pessoa aí em cima, tem gente que ainda acredita que diploma universitário e cultura são sinônimos, não importando toda a formação do indivíduo ao longo dos anos.

Sou pobre, negra, estudei todo o ensino fundamental em escolas municipais/ mas tive acesso "à outro tipo de educação" quando passei em uma escola pública federal, no ensino médio. Percebi o quanto era "diferente" dos demais, não por ser negra, mas sim por não ter acesso à mesma educação "de base" que eles. Passei no vestibular, sem cotas, e hoje vejo a importância da educação básica na minha formação – não para pinçar frases de livros e mostrar aos outros que "tenho cultura", mas para ter uma visão holística acerca do mundo. Sou CONTRA as políticas de cotas sim, e não sou nenhuma "muquirana do conhecimento". Apenas acredito que educação deve ser igual a todos, não para conseguirem "entrar na universidade": Para serem cidadãos…

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Sergio Terra em 17/04/2020 - 05h25 comentou:

Pesquisem sobre Antenor Patiño e conhecerão o verdadeiro Tio Patinhas…o cara que sustentou as cortes européias e esqueceu seus conterrâneos bolívianos, vivendo na luxúria da Europa, enquanto que aqui, na Bolívia, a população vivia na miséria, como o é ainda hoje. Triste assistir esse desenho e ver algum tipo de graça nele.

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