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Cultura

Dicas literárias para um Natal vermelho

Algumas dicas do blog para as compras de Natal. Já que não se pode fugir do consumismo desenfreado dessa época em que poucos se lembram exatamente o que comemoram, que pelo menos se gaste em livros. (Fique atento a UPDATES desta lista até o Natal.) LANÇAMENTOS: Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, de […]

Cynara Menezes
22 de dezembro de 2012, 11h00

Algumas dicas do blog para as compras de Natal. Já que não se pode fugir do consumismo desenfreado dessa época em que poucos se lembram exatamente o que comemoram, que pelo menos se gaste em livros. (Fique atento a UPDATES desta lista até o Natal.)

LANÇAMENTOS:

Marighella – O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães: sem dúvida, trata-se do lançamento do ano para quem está interessado em saber da história do Brasil através do olhar e da trajetória de um herói de esquerda. Antes de tudo uma reportagem de fôlego, o livro do jornalista Mário Magalhães não deixa escapar nenhum detalhe da vida intrépida do baiano comunista Marighella, o maior inimigo da ditadura militar brasileira, cujo centenário se comemora agora. Companhia das Letras, 784 págs., R$56,50.

Oblómov, de Ivan Gontcharóv: Sempre tive a maior curiosidade de ler este clássico de 1859, que sai agora no Brasil com tradução diretamente do russo por Rubens Figueiredo. Conta a história do rico senhor de terras Iliá Ilitch Oblómov, um legítimo representante do decadentismo que se recusa a sair de casa, revezando-se entre a cama e o sofá, às vésperas do fim da servidão na Rússia. Uma sátira à nobreza do país antes da revolução de 1917. CosacNaify, 736 págs., R$ 119,00.

Uma Confraria de Tolos, de John Kennedy Toole: este é, provavelmente, o melhor livro sobre losers já escrito. E o mais engraçados. Seu protagonista é Ignatius J. Reilly, um sujeito tão inteligente quanto fora do mundo, alterego de seu autor, que tem uma biografia trágica: deprimido porque não conseguia publicar o livro, Toole se matou em 1969, aos 31 anos. Malditos editores: descoberto, o livro foi um sucesso e acabou ganhando o Pullitzer em 1980. Fora de catálogo no Brasil há vários anos, ganhou esta versão pocket e baratinha. Record, 432 págs., R$19,90.

 

CLÁSSICOS:

O Direito à Preguiça, de Paul Lafargue: Costumo dizer que sou uma socialista da linha lafarguista. Ou seja, acredito que em nenhuma biblioteca libertária pode faltar essa pequena grande obra que questiona o trabalho excessivo. No Brasil ganhou edição bilíngue francês-português com prefácio da filósofa Olgária Matos. Claridade, 96 págs., R%29,00

O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro: um clássico é um clássico. Este livro vai estar sempre aqui nas dicas literárias do blog. Por que? Porque nada melhor do que descobrir como se construiu este País com a lente amorosa e esquerdista de Darcy Ribeiro. Está tudo aí: por que somos quem somos, o que nos fez assim, nossos defeitos e qualidades. Sem derrotismos. Companhia das Letras, 480 págs., R$64,50.

DO SEBO:

O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro: a biografia do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues foi, de longe, a melhor coisa que li este ano. Vocês dirão: mas o que um reacionário como Nelson está fazendo num blog socialista? Ora, em primeiro lugar jamais misturo arte com política. E, em segundo, não creio que Nelson fosse mesmo um reacionário: foi um transgressor em termos de costumes, reacionários não são assim. Além disso, o próprio Ruy Castro discorda dessa acepção e mostra, por exemplo, como Nelson foi um pioneiro no discurso contra o racismo no Brasil. Um livro imperdível. Companhia das Letras, 464 págs., R$65. E no sebo Estante Virtual a partir de R$30.

Pouso Forçado: A Verdadeira História da Destruição da Panair, de Daniel Leb Sasaki: não sei por que, mas o lançamento deste livro passou batido por mim em 2005 e já até virou tema de um documentário que tampouco vi. Estou curiosíssima por ambos. Conta a história da Panair e de seu fundador, Mário Wallace Simonsen, dono de um conglomerado de mais de 30 empresas, que acabaria perdendo tudo pela perseguição do regime militar. Record, 280 págs., R$37,90. E no sebo Estante Virtual a partir de R$25.

HQ:

Guadalupe, de Angélica Freitas e Odyr: muito bacana essa graphic novel nacional ambientada no México. Com roteito da premiada poeta Angélica e desenhada por Odyr, ambos pelotenses, conta a história de Guadalupe, em crise existencial às vésperas de completar 30 anos. Adorei os desenhos e também a família exótica de Guadalupe: o tio travesti dono de sebo e a avó motoqueira. Os autores traçam um divertido paralelo entre Pelotas e Oaxaca, o pueblo natal da vovozinha maneira. E mais não conto. Quadrinhos na Cia., 120 págs., R$32.

Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, de Alison Bechdel: é o livro de memórias em formato de graphic novel da quadrinista norte-americana, que revisita sua infância e adolescência, especialmente a descoberta da homossexualidade e a relação conflituosa com o pai. A festejada Alison Bechdel acaba de lançar, com idêntico sucesso de público e crítica, Are You My Mother?, ainda inédita no Brasil, onde prossegue sua autobiografia em HQ, agora com a mãe como alvo. Tradução: André Conti. Conrad, 240 págs., R$30,03.

Os Beats, de Harvey Pekar: esta graphic novel junta vários ídolos da contracultura americana em um só volume. Com roteiro de Harvey Pekar (American Splendor), trata-se da biografia ilustrada dos beatniks. É delicioso ler sobre as vidas fascinantes de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs sob a visão livre de Pekar, que não edulcora nada e destaca justamente o  caráter indomável dos três. O traço de Ed Piskor lembra muito Daniel Clowes. Tradução: Érico Assis. Benvirá, 208 págs., R$43.

O Capital, de Karl Marx: que tal uma versão do clássico de Marx em… mangá? Por incrível que pareça, a obra fez tanto sucesso no Japão que conseguiu o feito inédito de aumentar as filiações ao Partido Comunista Japonês, em 2009. Aqui saiu em português no ano passado, mas passou praticamente em branco. JBC, 200 págs. R$19,90.

E não esqueçam: na hora de comprar gadgets eletrônicos, não há nada melhor que BOOK. Dispensa eletricidade e bateria.


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(7) comentários Escrever comentário

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Rafael Rego em 12/12/2012 - 00h04 comentou:

To lendo "O Direito à preguiça". Voce já havia falado dele num post anterior, fiquei interessado e comprei.

Muuuuito bom!

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José Carlos Peliano em 13/12/2012 - 20h36 comentou:

Sugiro mais 5 livros; 1)A Hipótese Comunista, Alain Badiou, Boitempo; De Pernas Pro Ar – A Escola do Mundo ao Avesso, Eduardo Galeano, LP&M; O Ano em que Vivemos Perigosamente, Slavoj Zizek, Boitempo; Marx Estava Certo, Terry Eagleton, Nova Fonteira; e Como Cambiar el Mundo, Eric Hobsbawm, Crítica.

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Jaime Guimarães em 13/12/2012 - 20h39 comentou:

"A confraria dos tolos" é SENSACIONAL, uma das melhores descobertas literárias deste ano – ou dos últimos anos, pois o livro andou fora de circulação no Brasil e ganhou essa versão pocket. A saga de Ignatius Reilly é divertidíssima: guloso, preguiçoso, arrogante, medieval ( fã de Boécio) e inteligentíssimo! As confusões e reflexões de Ignatius são acompanhadas de uma galeria de personagens também muito divertida e curiosa.

Ótima recomendação!

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Luana em 15/12/2012 - 19h07 comentou:

Do Nelson Rodrigues: "Não caçamos pretos, no meio da rua, a pauladas, como nos Estados Unidos. Mas fazemos o que talvez seja pior. A vida do preto Brasileiro é toda tecida de humilhações. Nós o tratamos com uma cordialidade que é o disfarce pusilânime de um desprezo que fermenta em nós, dia e noite. Acho o branco brasileiro um dos mais racistas do mundo." (1957)

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Elson em 17/12/2012 - 11h14 comentou:

Estou lendo,Major Curió e a Guerrilha no Araguaia, e estou muito interessado no livro do Mario Magalhães-Uma coisa que estou achando interessante,grande parte dos jornalistas estão tornando bons escritores.E Visto é ótimo…No Brasil ainda tem muita historias para serem contadas.

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Bruno Salheb em 22/12/2012 - 13h10 comentou:

Comprei O Capital mangá quando vi aqui. É divertido, apesar de ser uma leitura juvenil. O contra da publicação é o acabamento: esperava que fosse colorido, é preto e branco e em folha de jornal. O Povo Brasileiro e Direito a Preguiça são clássicos, ainda que em certo ponto datados, são leitura obrigatória.

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    morenasol em 22/12/2012 - 13h41 comentou:

    discordo. o povo brasileiro e o direito à preguiça impressionam justamente por não terem perdido sua atualidade

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